Como foi restaurado o quadro
Independência ou Morte?

Especialistas da USP nas áreas de física e química usaram técnicas que permitem devolver o aspecto original da obra; veja em resumo como foi o processo

Infografia: Beatriz Abdalla

A obra

O quadro Independência ou Morte (1888) de Pedro Américo é considerado a representação mais consagrada e difundida do momento da independência do Brasil.

Artista: Pedro Américo
Técnica: Óleo sobre tela
Acervo: Museu do Ipiranga
Período: 1888

Independência ou Morte, de Pedro Américo. - Foto: Acervo Museu do Ipiranga

“Independência ou morte” foi uma obra encomendada pela Família Imperial, com a ideia de ressaltar o poder monárquico do recém-instaurado império. No Brasil, a tela foi exposta pela primeira vez em 7 de setembro de 1895, na inauguração do Museu Paulista.

Panorama do Salão Nobre do Edifício-Monumento, construído para abrigar a tela "Independência ou Morte", de Pedro Américo

Você sabia?

Medindo 415 x 760 cm, a pintura é bem maior que as portas e janelas do Museu do Ipiranga: a tela foi montada originalmente onde está até hoje e nunca foi retirada de lá.

Foto: M. Nogueira da Silva via Wikimedia Commons

Pedro Américo

Pedro Américo de Figueiredo e Melo foi um romancista, poeta, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo, político e professor brasileiro, mas é mais lembrado como um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, deixando obras de impacto nacional.

Sua obra esteve inserida na arte neoclássica, privilegiando temas históricos e personificações, como é o caso de “Independência ou Morte”, uma de suas obras cívicas.

Foto: Divulgação/Museu Paulista

O Museu do Ipiranga

O edifício histórico localizado no Parque da Independência, conhecido pelo nome de Museu do Ipiranga, tem como nome oficial Museu Paulista da Universidade de São Paulo. É uma instituição científica, cultural e educacional com atuação no campo da História e cujas atividades têm, como referência permanente, seu acervo histórico.

O edifício está fechado para visitação do público desde 2013, quando foi detectado risco iminente de queda do forro. A expectativa é que seja reaberto em setembro de 2022, completamente renovado e ampliado, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil.

A restauração do quadro

Foto: Daniel Antônio/Agência Fapesp

Devido à ação do tempo, o quadro Independência ou Morte começou a apresentar sinais de desgaste. Assim, foi recrutada uma equipe de nove profissionais, sob o comando da especialista em restauro do Museu do Ipiranga Yara Petrella, para iniciar o processo de restauro da tela.

Além de reparar danos causados pela ação do tempo, os restauradores buscaram devolver à pintura suas cores originais – retirando a sujidade acumulada com o tempo, recompondo pontos de perda na camada pictórica original e retirando vestígios de restauros antigos, como um amarelado indevido em certa região do céu.

Pesquisa de documentação

Em 2017, a equipe realizou um levantamento de documentos sobre a pintura. Desse modo foram obtidos detalhes sobre as cores originais, bem como as áreas retocadas nos três restauros anteriores, sendo o último de 1972.

Reflectografia em infravermelho

A imagem em infravermelho permite visualizar os traços iniciais, a grafite ou carvão, que Pedro Américo recobriu depois com camadas de tinta. A técnica também é usada para revelar pentimenti, áreas de retoques e falsificações.

Espectroscopia por fluorescência de raios X

As técnicas espectroscópicas possibilitam determinar a paleta de cores e, por decorrência, sugerir os pigmentos usados originalmente pelo artista. Permitem ainda identificar pigmentos alterados ou que possam ter sido empregados em restaurações anteriores

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Microscopia Raman

Como certos elementos químicos podem estar presentes em mais de um pigmento, o processo de identificação pode deixar dúvidas sobre qual foi o material usado. Para determinar a substância, é adotada a microscopia Raman, que analisa fragmentos microscópicos do quadro e determina sua composição química.

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Restauração

Nesta etapa, a equipe de restauradores utiliza-se de todo o conhecimento sobre a obra acumulado nas fases anteriores para aplicar uma nova camada de tinta sobre a obra, respeitando seu aspecto, materiais e técnicas originais. Para esta última restauração, foram utilizados pigmentos com Paraloid B72 ou tintas prontas para retoque, que são mais reversíveis do que a tinta a óleo e facilitam possíveis restaurações futuras.

Envernizamento

Após o restauro, o quadro será recoberto com verniz, que resiste a muitos anos sem amarelecer. Esta etapa será feita em 2022, perto da data prevista para a reabertura do Museu do Ipiranga

Fontes:

“Quadro ‘Independência ou Morte’, de Pedro Américo, chega à fase final de restauro” – Folha de São Paulo, 29/04/2020.
“A famosa tela Independência ou Morte (1888) foi restaurada” – Veja São Paulo, 08/05/2020
“Restauração do quadro Independência ou Morte alia ciência e arte em SP” – Governo do Estado de São Paulo, 19/02/2020
“Independência ou Morte (Pedro_Américo) – Wikipedia