A experiência moderna refletida pelos artistas e intelectuais da virada do século 19 para o 20 está ligada ao fenômeno de expansão urbana, no Brasil e em outros países, afirma a professora Ana Gonçalves Magalhães, diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC). A curadora da Pinacoteca do Estado Horrana Santoz ressalta a “urgência de fazer com que a margem também ocupe o centro do debate”. Por isso, culturas urbanas são o tema do terceiro encontro do ciclo 1922: Modernismos em Debate, que acontece na próxima segunda-feira, dia 31, às 18 horas, com transmissão ao vivo pelos canais no YouTube e no Facebook das três instituições que organizam o evento, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, o Instituto Moreira Salles (IMS) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Nesse terceiro encontro do ciclo – que se estenderá até dezembro, em encontros mensais -, haverá duas mesas-redondas, em que pesquisadores vão abordar a cultura urbana que emergia no Brasil na época do surgimento do Modernismo.
A primeira mesa, às 18 horas, terá a participação das professoras Marize Malta, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Beatriz Jaguaribe, da Escola de Comunicação também da UFRJ. Marize vai explorar a interferência nas artes visuais de diferentes artes e de manifestações populares em grandes cidades, enquanto Beatriz abordará “a disputa pelo moderno e imaginários da cidade” a partir das reformas urbanas realizadas em 1922 no Rio de Janeiro. Ana Magalhães diz que as duas pesquisadoras “exploram outras fontes documentais, sobretudo da imprensa, para propor suas releituras da vida moderna que emergiu na cidade do Rio de Janeiro, principalmente”. Ao final da mesa, haverá um debate mediado pela curadora-chefe da Pinacoteca, Valéria Piccoli.
Já a segunda mesa, às 19h45, terá a presença do escritor e historiador Luiz Antônio Simas e do historiador e dramaturgo Salloma Salomão. A mediação do debate será de Horrana Santoz. “Ambos também são músicos e críticos dedicados a pensar a modernidade, e será de grande importância para a memória do ciclo presenciar o cotejamento de suas historiografias e de suas perspectivas sobre a formação das cidades e das periferias, revisitando as práticas artísticas e culturais do início do século 20 até hoje”, afirma Horrana.
A curadora diz que a fala de Simas deve apontar para o fato de que, em cidades como o Rio, que recebeu um alto contingente de indivíduos escravizados, “o indivíduo negro foi um agente civilizador do ponto de vista da cultura, e isso desperta uma perspectiva crítica sobre a contribuição das populações negras na modernidade brasileira”. Quanto à apresentação de Salomão, a curadora ressalta que o convidado é um “sabedor incansável”, com amplo repertório. “Penso que a sua participação na mesa destacará nomes e trajetórias que, mesmo apartadas da coletividade, ainda nos compõem”, completa.
A importância das culturas urbanas
Entre o final do século 19 e o começo do século 20, há o momento alto de expansão urbana no País, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, segundo Ana Magalhães. “No caso paulista, esse é talvez um dos motes dos modernistas da Semana de 22, como sugerido no famoso poema em prosa de Mário de Andrade, Pauliceia Desvairada”, destaca a professora. Ou seja, nesse cenário, desenvolvimento urbano e modernista caminhavam juntos.
Para Horrana, a partir do contexto econômico, político, racial e artístico do Brasil no início do século 20, “é imprescindível ressaltar outros movimentos e a articulação de artistas, pesquisadores, escritores, músicos e outros agentes culturais impedidos de frequentar os espaços daquela nova aristocracia urbana industrial”.
Ana afirma que “se fez uma diferença muito grande entre ‘baixa’ e ‘alta’ cultura entre o que as elites consumiam, e a experiência de viver na cidade moderna reverberava e dava subsídios para outros grupos sociais criarem”. Ela cita como exemplo a cultura da favela, retratada nas pesquisas de historiadores sociais brasileiros como José Murilo de Carvalho, Sidney Chalhoub e, com foco na história das artes visuais, Rafael Cardoso — que foi convidado do último ciclo de encontros.
“O início do século 20 foi marcado pela emergência da favela como parte integrante do processo de urbanização do Rio de Janeiro, por exemplo, que deu origem ao samba e a outros modos de apropriação do carnaval como festa popular e de rua”, diz Ana. Temas como esses aparecem tanto na produção de modernistas célebres, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, quanto na contribuição de artistas que atuaram em revistas ilustradas, como José Carlos de Brito e Cunha, conhecido por J. Carlos, e Calixto Cordeiro, o K. Lixto. “No encontro, Beatriz Jaguaribe trará também contribuições importantes do campo da literatura e da arquitetura para tratar do tema”, completa a professora.
O terceiro encontro do ciclo 1922: Modernismos em Debate acontece no dia 31 de maio, segunda-feira, às 18 horas, com transmissão ao vivo através dos canais no YouTube e no Facebook do Museu de Arte Contemporânea (MAC), do Instituto Moreira Salles (IMS) e da Pinacoteca. Mais informações estão disponíveis neste link.
Informações: Gabriela Caputo, Jornal da USP