A infância revisitada: um estudo sobre o protagonismo infantil na literatura brasileira ao raiar do século XX

Tese de Doutorado: A infância revisitada: um estudo sobre o protagonismo infantil na literatura brasileira ao raiar do século XX

Autor(a):  Laís de Almeida Cardoso

Ano: 2017

Orientador(a):  Maria Zilda da Cunha

Unidade da USP: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.8.2017.tde-04082017-192107

Resumo: 

O objetivo da presente pesquisa foi estudar as representações da infância na literatura brasileira em uma época marcada por importantes transformações políticas, sociais e econômicas, não somente no Brasil, mas em todo o mundo a primeira metade do século XX. Desse período, compreendido mais especificamente entre 1920 e 1945, elencamos para o estudo quatro textos que apresentam perfis de diferentes protagonistas infantis: o conto Negrinha, de Monteiro Lobato, integrante da coletânea homônima publicada em 1920, e os romances Menino de engenho, de José Lins do Rego (1932), Capitães da Areia, de Jorge Amado (1937) e Infância, de Graciliano Ramos (1945). Enquanto o conto lobatiano precede a eclosão do Modernismo, os três romances analisados fazem parte do chamado movimento regionalista nordestino, que se estabeleceu especialmente durante a década de 1930 e apresentou como principais novidades a liberdade temática e o vigor estilístico na prosa literária. O intervalo de tempo escolhido, localizado entre o prenúncio e o fim do movimento modernista, revelou outra interessante coincidência: ao mesmo tempo que de um lado diferentes autores dedicavam-se a escrever sobre a infância brasileira, de outro se constituía por meio das obras infantis do próprio Monteiro Lobato uma literatura infantil genuinamente brasileira. Tomando os estudos sociológicos de Gilberto Freyre acerca das relações sociais e da constituição da família brasileira nos séculos anteriores ao período estudado, tivemos também como interesse durante a pesquisa buscar nos textos de ficção traços da infância descrita pelo sociólogo e vestígios de uma sociedade patriarcal e escravocrata. E, por fim, a partir de um breve estudo biográfico de cada um dos autores estudados, procuramos estabelecer ainda algumas relações entre infância, juventude, memória e criação. Como resultado de nossa análise, constatamos que, apesar das diferenças entre estilos e contextos que permeiam as quatro narrativas, alguns temas são recorrentes em todas elas, promovendo diálogos possíveis. Vestígios da escravidão, castigos corporais a que as crianças são submetidas, contraposição entre liberdade e sujeição e a despedida da infância são alguns deles. Considerando-se também o cenário sociocultural em que as obras foram concebidas e as histórias de vida de seus autores, é possível concluir que, mais que retratos esparsos de crianças construídas de papel e tinta, os textos, em seu conjunto, trazem-nos importantes reflexões sobre a infância no Brasil nesse período situado na primeira metade do século XX.

Palavras-chave: Infância; Literatura Brasileira; Representação; Século XX.

Fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP