Arquitetura forense do Estado de São Paulo: produção moderna, antecedentes e significados

Dissertação de Mestrado: Arquitetura forense do Estado de São Paulo: produção moderna, antecedentes e significados

Autor(a): Maria Tereza Regina Leme de Barros Cordido

Ano: 2007

Orientador(a): Miguel Antonio Buzzar

Unidade da USP: Escola de Engenharia de São Carlos (EESC)

Disponível em: https://doi.org/10.11606/D.18.2007.tde-28112007-200636

 

Resumo:

Com a introdução de um plano de governo com ideais modernizadores: o plano de ação – PAGE- de Carvalho Pinto, (1959/1963), jovens arquitetos encontram solo para cultivar seus ideais de uma nova arquitetura, através da geração de novos espaços que possibilitariam novas práticas sociais. Ações administrativas, organizacionais e financeiras se estruturaram em torno de um projeto central, o de alavancar a modernidade do Estado, em particular no seu interior, estruturada através da modernização material e do modernismo sócio-cultural. Este objetivo era coordenado por um grupo de planejamento responsável pelo entrosamento dessas ações. Agregando o modernismo tanto cultural, através das formas arquitetônicas modernas, que deveriam representar a modernidade, como social, através de novos arranjos espaciais, que deveriam tornar a justiça mais acessível, os edifícios forenses projetados pelos arquitetos modernos são peças paradigmáticas desse processo. Suas novas práticas questionavam o agenciamento espacial tradicional, introduziram novas características construtivas e tipológicas e repensaram a relação com o entorno. Vale registrar que ao longo da primeira metade do século XX os edifícios forenses, implantados pelo DOP (a partir de 1920), ainda traziam no seu agenciamento espacial interno formas de uso similares as extintas casas de câmara e cadeia, modelo colonial, onde os serviços tidos como mais nobres ocupavam o andar superior que tinha acabamento mais requintado. A simbologia recursiva destes edifícios, os usos de ornamentos e elementos greco-romanos buscavam conferir monumentalidade. Mesmo onde se indica uma pré-padronização destes edifícios a partir dos anos cinqüenta, essa condição está presente. A nova fase de produção através dos edifícios modernos possui um propósito mais complexo, envolvendo uma nova forma do saber e fazer arquitetura, percebida na introdução de novas tecnologias, conceitos e relações que se interagem compondo um macrocosmo de questões. Bratke em Amparo utiliza um grande átrio de distribuição aberto e fluído; em Araras Fábio Penteado concebe o fórum a partir de um pátio coberto para circulação retirando o tribunal do júri do corpo do edifício para múltiplo uso da população local; concepção também adotada em Avaré com Paulo Mendes da Rocha; em Amparo, Libeskind e em Piracicaba com Reydi os edifícios enfatizam a independência da estrutura em favor da maior expressividade plástica da obra; em Orlândia, Wilhein aproxima os ambientes de maior uso público com seu entorno, fruição também evidente em Itapira com Joaquim Guedes; em Promissão, Artigas e Cascaldi utilizam essa fluência de forma crítica, articulada por rampas diluindo o campo de observação unidirecional dos recorrentes passos perdidos; em Porto Feliz, Botti e Rubin enfrentam a modulação e elementos pré-fabricados, prezando pela funcionalidade para os serviços da justiça. Embora propusessem um rompimento aos paradigmas adotados na produção forense, essa produção se contrapõe ao utilizar uma nova simbologia, que de certa forma, expressasse a modernização do Estado, percebidos no conjunto de seus aspectos formais e sentidos sociais de seus projetos. Entretanto a adequação para os serviços da justiça foi problemática. As diversidades desta produção, aliados as inadequações encontradas em suas formulações tiveram como resposta a produção estandardizada. Este novo rumo, ainda que base para os novos fóruns até a atualidade, não eliminaram todas as dificuldades apontadas na produção anterior. A produção viabilizada pelo PAGE nos revela que a representação dada a modernização do país, no caso em São Paulo, está associada a proposta de novas práticas de relações sociais, através de espaços mais democráticos. Além de se obter um novo campo de compreensão, ao conhecer como o interior do Estado participava no quadro de desenvolvimento do país projetando a representação de uma nação que bania seu atraso, contribuindo na difusão da arquitetura moderna.

Palavras-chave: Arquitetura Forense; Arquitetura moderna; PAGE; Plano de ação.

 

Fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.