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Consciente do seu papel intrínseco de ser instituição voltada à produção do conhecimento, da pesquisa científica qualificada, mas, sobretudo, do seu compromisso público inexcedível com a formação cidadã das novas gerações, a Universidade de São Paulo organizou a semana de reflexão e de debates USP Pensa Brasil. Concebido para ser um evento voltado ao tratamento da conjuntura brasileira, com evidente intenção prospectiva, o acontecimento é revelação insofismável do compromisso da Universidade com os rumos da nossa sociedade, em um momento particularmente alvoroçado da vida nacional.
O País continua a surpreender os corações livres e as mentes mais esclarecidas, tornando inseguras as projeções capazes de apontar um futuro de superação dos graves problemas que nos assolam, que possam iluminar horizontes que descortinem soluções de bom termo. Nesse contexto, o Brasil de hoje é exigente de projetos civilizatórios, de abertura de caminhos, de saídas para os impasses políticos, econômicos, sociais e culturais nos quais estamos imersos. Não parecem, então, de pouca monta os desafios que enfrentamos nos tempos atuais, cuja envergadura nos compunge a buscar respostas criativas.
O seminário USP Pensa Brasil tem o compromisso com uma agenda de mudanças, capaz de enfrentar as questões candentes do momento e que exigem soluções imediatas. Há uma perspectiva generosa subjacente ao seminário, a testemunhar o fato de a Universidade não se descurar da sua mais destacada missão, a de tornar o conhecimento um bem público, dirigido ao bem-estar social e à dignidade humana, mas que não abandona o caráter de reflexão orientada por meios sistemáticos e segundo os cânones científicos. Por essa razão, o projeto nutre-se do patrimônio acumulado pelas pesquisas construídas no nosso meio; tem como garantia a reputação da USP, afirmada no seu vasto cabedal científico e cultural; legitima-se, por isso, por ser uma voz autorizada e de reconhecido relevo.
A concepção subjacente ao evento, que orientou o amplo e variado conjunto da programação, construiu-se a partir de cinco grandes temas – Como pensar o Brasil no século 21, Relações entre Estado e desigualdade no Brasil, Impasses da democracia brasileira, Antropoceno e o novo paradigma ambiental brasileiro, Impasses da cultura moderna no Brasil – articulando aos problemas sociais as questões reflexivas, afirmação da vocação pública da produção científica, impressa nas concepções atuais da Universidade.
USP Pensa Brasil se distingue por congregar especialistas de várias especialidades e de diversas áreas do conhecimento, postos em convívio numa relação normalmente incomum em eventos acadêmicos, que ainda prevê a participação de personalidades externas ao meio universitário, identificadas, cada uma a seu modo, com o avanço dos debates sobre a realidade brasileira. Segundo a orientação, a iniciativa de contemplar as efemérides, os duzentos anos da Independência política do Brasil e os cem anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, assinala uma concepção de comemorações enquanto oportunidade de revisão reflexiva de ideias cristalizadas, por vezes acriticamente introjetadas. As análises desenvolvidas nos Eixos Temáticos, na pesquisa e inovação e políticas de pós-graduação estão comprometidas com propostas de intervenção e participação nos rumos tomados no âmbito das decisões públicas.
Nessa perspectiva, assume-se que a complexidade dos nossos problemas é exigente de projetos originados em visões de mundo diferenciadas e informadas por expectativas próprias, ao mesmo tempo em que representa a extroversão da USP para fora dos seus muros, questão, aliás, que a plêiade de iniciativas culturais organizadas na semana é testemunho sobejo. A origem dessemelhante dos participantes aponta para uma postura avessa à arrogância, que bebe, comumente, na fonte das certezas inquestionáveis. Reconhece-se, ao revés, tanto a envergadura do propósito quanto certa imponderabilidade do cenário futuro, sentimento que inspirou, em outros momentos, personalidades de relevo da Universidade, que tiveram participação ativa e qualificada na construção de princípios em setores decisivos das políticas científicas, da educação, dos problemas nacionais.
O espírito que anima o seminário manifesta-se, enfim, no elã de contribuir para uma ampla reflexão sobre os rumos do Brasil moderno, que parece ter caminhado, nos últimos anos, em direção oposta ao avanço, tangenciando situações regressivas e de perda civilizatória. No bojo dessas considerações, o Observatório das Instituições, que será lançado no encerramento, é desdobramento profícuo e de pretensão duradoura, é derivação, em suma, do sentido superior dos nossos desígnios.
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