Exposição elege 200 livros que ajudam a refletir sobre o Brasil

Da colônia aos dias de hoje, seleção aposta na diversidade e reúne desde obras canônicas a autores silenciados
Exposição: 200 livros para pensar o Brasil – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Com a exposição 200 Livros Para Pensar o Brasil, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP instiga o público a refletir sobre nosso passado e nosso presente, com olhos atentos para o futuro. Com inspiração no artigo 10 Livros Para Entender o Brasil, do crítico literário e professor da USP Antonio Candido (1918-2017), a mostra amplia a lista de títulos para oferecer uma mirada mais plural sobre o País.

Parte das atividades relacionadas ao bicentenário da Independência e da semana USP Pensa o Brasil, que vai de 29 de agosto a 2 de setembro, a exposição procurou recuar ainda mais no tempo e compôs um mosaico de obras, indo século 16 até a atualidade. A perspectiva dos curadores foi apresentar livros que representam e interpretam o País, começando pelas obras descritivas do território da colônia recém-invadida e chegando às discussões e conflitos atuais da sociedade brasileira.

Para isso, a exposição dividiu as obras em seis períodos: pré-Independência (1500-1822), Brasil Império (1822-1889), Primeira República (1889-1930), Brasil moderno (1930-1964), Ditadura militar (1964-1985) e Brasil contemporâneo (1985-2022). Dentro de cada período foram selecionados livros canônicos mas também aqueles volumes representativos das vozes silenciadas e dos projetos de país derrotados. A ideia, com esse conjunto, foi colocar em diálogo visões heterogêneas sobre o Brasil.

“O critério foi, evidentemente, passar por aquelas obras emblemáticas, reconhecidas como importantes tanto para a literatura quanto para o pensamento social e histórico brasileiro”, comenta o professor Alexandre Macchione Saes, diretor da BBM e um dos curadores da exposição. “Mas, ao mesmo tempo, quisemos garantir que cada período histórico pudesse contar com livros não reconhecidos no cânone. Assim, buscamos trazer autores menos prestigiados e garantir a diversidade de vozes e de interpretações sobre o Brasil. Tentamos, ao longos desses quase 500 anos de história, contrapor livros que estariam presentes em qualquer lista com aquelas obras não tão óbvias.”

Conforme explica Saes, a seleção dos títulos ficou a cargo de um grupo de estudantes bolsistas vinculados ao projeto 3×22 da BBM e ao setor de mediação cultural da biblioteca, com a participação do diretor e do funcionário João Marcos Cardoso. “Foi um trabalho muito interessante, feito junto aos estudantes da Universidade. Foram quase dez bolsistas, ao longo de dois anos, que trabalharam intensamente nessa seleção buscando referências indo do tradicional ao não óbvio.”

Livro Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus de 1960 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Os curadores privilegiaram a pluralidade e escolheram uma obra por autor, aquela mais representativa de seu pensamento e trajetória. Procurou-se também evitar a presença de autores estrangeiros, ainda que estes apareçam com algum destaque dentre os livros do período colonial. O resultado é uma coleção que vai de Gilberto Freyre a Sueli Carneiro, de José de Alencar a Davi Kopenawa, de Machado de Assis a Carolina Maria de Jesus.

De acordo com Saes, ao elencar 200 livros por ocasião do bicentenário da Independência, a BBM procurou dar realce à grande diversidade de publicações, especialmente do período contemporâneo, muitas das quais não fazem parte do repertório mais convencional quando se pensa em literatura ou reflexões históricas, políticas ou sociais a respeito do País. Uma das propostas foi também, aponta o diretor, provocar o pensamento a respeito da permanência e da formação desse acervo em uma biblioteca brasiliana do século 21. “Quais são os livros da nossa literatura que pensam nossa história, nossos aspectos sociológicos e políticos? Quem vai fazer parte de um brasiliana do século 21? Quem serão esses autores, quem serão esses personagens, quais serão os temas explorados?”

Outra proposta fundamental, prossegue Saes, foi trazer o estranhamento em relação a algumas obras selecionadas. Volumes que não são tão evidentes e comuns dentro do mercado literário brasileiro mas que não deixariam de apontar para temas urgentes da nossa sociedade. “E, com isso, também provocamos nossos visitantes a terminar a exposição sugerindo quais livros deveriam compor outras listas de 200 livros. Obras que não estão aqui mas que fariam parte de tantas outras listagens dos 200 livros para pensar o Brasil”, conclui.

A exposição 200 Livros Para Pensar o Brasil acontece de 29 de agosto a 16 de dezembro, de segunda a sexta das 8h30 às 18h30, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP (Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo). Grátis.
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Texto: Luiz Prado, do Jornal da USP