Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Conheça a trajetória do Museu Paulista da USP, reaberto após anos em reforma

Edifício que foi idealizado para lembrar independência do país, foi ampliado e passou por restauro nas estruturas internas e externas

02/09/2022

Crisley Santana

O Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, abriga cerca de 450 mil unidades, entre objetos, iconografia e documentação textual que vão do século 17 ao 20. Itens significativos para a compreensão da sociedade brasileira, especialmente no que se refere à história paulista. 

A fundação remete ao ano de 1822 quando o Brasil declarou independência, separando-se politicamente de Portugal. Naquele ano, o então príncipe regente D. Pedro I declarou a soberania do território nas margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Entre 1824 e 1825 os governos locais encaminharam medidas para a demarcação do local onde ocorreu a declaração e construção de um monumento que lembrasse a data histórica.

A construção (1885)

Em 1885 foram iniciadas as obras de construção de um edifício-monumento no local com projeto arquitetônico do italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915). A ideia inicial previa a construção de um retângulo com “braços” laterais que se projetavam da fachada em direção à cidade.

Quadro Pedra Fundamental do Museu Paulista, óleo sobre tela, 1882 - Imagem: José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP/ Wikimedia Commons

O Edifício-Monumento durante a construção dos andaimes e pessoas à frente, 1888 - Imagem: Acervo do Museu Paulista da USP (Coleção Bezzi). Restauração óptica por João Sócrates de Oliveira, 1990

Desenho do projeto por Tommaso G. Bezzi - imagem: Acervo Museu Paulista da USP

A primeira coleção (1890)

Uma das primeiras coleções do Museu foi uma doação conhecida como Museu Sertório, de propriedade do coronel Joaquim Sertório. Ela foi doada em 1890 ao então Museu do Estado. Algumas peças reunidas por esta coleção contém objetos usados por personagens importantes na História, como uma cama que pertenceu ao sacerdote e político Diogo Antônio Feijó (1784-1843), também conhecido como Padre Feijó ou Regente Feijó.

Lenço com “P” bordado encimado pela coroa imperial. Pertenceu a D. Pedro II. Catalogado por Marisa Basso. Catálogo eletrônico do Museu Paulista. Acervo do Museu Paulista/USP,. Na segunda foto, Leito que pertenceu ao Padre Diogo Antonio Feijó. Catalogada por Heloisa Barbuy - Acervo do Museu Paulista

A transferência do Museu do Estado (1892)

O Governo Provisório buscava dar uma uma finalidade útil ao espaço. Cogitou-se a ideia de transformá-lo em uma escola pública, mas o projeto não se concretizou. Em 1892 foi decidido que o Museu do Estado seria transferido para o edifício. Com a transferência, além da coleção Museu Sertório, foram enviadas as peças do antigo Museu Provincial da Associação Auxiliadora do Progresso da Província de São Paulo, fundado em 1877.

A instituição do Museu Paulista (1893)

Com a transferência do Museu do Estado ficou estabelecido o uso do edifício. Para gerir o novo Museu, contratou-se o zoólogo alemão Hermann von Ihering (1850-1930). A ideia era que a instituição tivesse caráter enciclopédico e naturalista, tal como funcionava a maioria dos museus europeus no século 19.

Piquenique com o Museu Paulista ao fundo - Imagem: Acervo do Museu Paulista da USP

A Inauguração (1895)

O Museu foi inaugurado no dia 7 de setembro de 1895. O resultado da construção foi um edifício de 123 metros de comprimento e 16 metros de profundidade formado por um retângulo central e dois acoplados, diferente do projeto inicial. O estilo arquitetônico reuniu aspectos da arte renascentista, baseado nos palácios europeus construídos entre os anos 1300 e 1600, e alvenaria de tijolos cerâmicos. O uso foi uma novidade na época, pois as construções da cidade usavam taipa de pilão. As peças apresentadas na inauguração incluíam itens históricos, zoológicos e botânicos.

Cartão Postal do Museu com vista do jardim - Imagem: Acervo Museu Paulista da USP

As mudanças (1917 - 1922)

Em 1917 o Museu passou a ser gerido pelo historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958). A gestão foi marcada por adicionar maior caráter histórico à instituição, além de construções realizadas com fins comemorativos pelo Centenário da Independência, em 1922. As construções envolveram a criação de um monumento e a ampliação dos jardins que circundam o Museu.

Monumento à Independência

Foi idealizado pelo escultor italiano Ettore Ximenes (1855-1926). A construção iniciou em 1917 e foi finalizada em 1926, embora tenha feito parte das comemorações do Centenário. A obra reúne elementos sobre episódios e pessoas influentes para a Independência, como a Revolução Pernambucana (1815), a Inconfidência Mineira (1789), retratos de José Bonifácio (1763-1838) e Padre Feijó, por exemplo. No interior do Monumento há uma cripta que foi construída em 1952 para abrigar os restos mortais de D. Pedro I e das imperatrizes D. Leopoldina e Amélia.

Fechamento do Museu - Imagem: Museu Paulista da USP

Monumento ao Ipiranga no século 20 - Imagem: Acervo do Museu Paulista da USP; Werner Haberkorn/Wikimedia Commons

Vista aérea do Monumento à Independência em 2018. Imagem - Igor Rando/Wikimedia Commons

O fechamento (2005 - 2013)

Em 2005 iniciou-se a realização de diagnósticos sobre o Museu a fim de ampliar o espaço e modernizar as estruturas. Com o passar dos anos, problemas relacionados aos revestimentos se agravaram, aumentando o risco de desabamento em algumas áreas. Decidiu-se, então, pelo fechamento da visitação pública em agosto de 2013. Peças e livros da instituição, usados por pesquisadores, foram transferidos para outros edifícios da cidade.

Fechamento do Museu - Imagem: Museu Paulista da USP

Museu fechado em reforma - Imagem: Marcos Santos/USP

As reformas (2019-2022)

Em outubro de 2019, cerca de seis anos após o fechamento, iniciaram-se as obras de restauro. Os elementos da área interna passaram por processos de modernização e reparo. A fachada do Museu, que contém extensão de 7.600 metros, também foi reparada. Modificações foram feitas nas áreas externas com o objetivo de ampliar a capacidade de visitação. Diversas obras do acervo, incluindo o quadro Independência ou morte (1888) do pintor Pedro Américo (1843-1905), passaram por restauração durante o fechamento da instituição.

Restauração das portas do edificio - Imagem: reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Restauração do quadro Independência ou Morte, 1888 de Pedro Américo - Imagem: MP/USP

Restauração de elementos do Museu - Imagem: reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

A reabertura (2022)

O edifício foi ampliado e conta com espaço para bilheteria, auditório para 200 pessoas, espaço educativo, café, loja e uma sala para receber exposições temporárias. Além da restauração dos elementos internos, incluindo piso, paredes, teto, portas e janelas, o edifício ganhou elevadores e sistema para prevenção de incêndios. A instalação de ar-condicionado no local tornou o Museu apto a receber acervos de outras instituições.

A reabertura acontecerá no dia 6 de setembro de 2022 em um evento para autoridades e patrocinadores das obras. No dia 7 de setembro o Museu receberá estudantes de escolas públicas e as equipes que trabalharam na restauração do edifício. O público em geral poderá voltar a visitar o Museu a partir do dia 8 de setembro. As visitas devem ser agendadas pelo site https://museudoipiranga.org.br

Imagens do Museu após a reforma - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens