Autor(a): Melanie Vianna Alencar
Ano: 2022
Orientador(a): Alexander Turra
Unidade da USP: Instituto Oceanográfico
Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/21/21134/tde-19092022-144406/pt-br.php
Resumo: O combate ao lixo no mar é um dos grandes desafios da atualidade e uma das metas propostas pelo Objetivo 14 do Desenvolvimento Sustentável. Estima-se que 8 milhões de toneladas de plásticos sejam introduzidas nos oceanos ao ano. E o Brasil é o 16o país que mais contribui com esse lançamento. Este estudo traça um panorama do lixo marinho no Brasil sob a abordagem Source-to-Sea, em quatro etapas: (I) avaliação da rede de pesquisa, do conhecimento existente e do acoplamento entre a ciência e preocupações políticas; (II) análise das soluções propostas pela literatura do macrolixo no mar, no Brazil, e avaliação do alinhamento dessas soluções com abordagens upstream; (III) compreensão das potencialidades e limitações de estimativas subnacionais de vazamento de lixo para o ambiente; e (IV) identificação dos pontos críticos com maior risco de geração e entrada de lixo plástico propenso ao escape (LPPE) para o oceano. Os estudos e grupos de pesquisa foram identificados por meio de um mapeamento sistemático de artigos científicos. Soluções para o lixo marinho propostas pelos artigos foram analisadas e comparadas com as abordagens Source-to-Sea, Hierarquia dos Resíduos e Gestão de Sustentabilidade na Cadeia de Suprimentos. Para sistematizar parâmetros do escape de lixo para o ambiente, a nível municipal, foi feita consulta à literatura especializada e análise dos parâmetros, seguida de prospecção de dados disponíveis para os municípios brasileiros e avaliação da usabilidade dos dados. A estimativa dos pontos críticos de geração de LPPE e entrada no oceano foi feita através da correlação de informações sociodemográficas com dados sobre resíduos sólidos e rede hídrica, usando dados para todos os 5570 municípios brasileiros e priorizando fontes de dados com melhor usabilidade. O presente estudo identificou 189 artigos sobre o lixo marinho no Brasil, dos quais 59 focaram em macrolixo e foram majoritariamente episódios e fragmentados, além de adotarem uma variedade de estratégias de coleta e processamento de amostras. Além disso, os estudos produzidos no Brasil não estavam alinhados a preocupações políticas, e a rede de pesquisa não esteve bem integrada. Enquanto a maioria dos artigos propôs soluções para o lixo presente no meio ambiente (71,2%), poucos estudos preconizam mudanças na cadeia de produção e nos padrões de geração de resíduos (10,2%), que são essenciais. Baseado nos diversos elos da cadeia deprodução-consumo-descarte-poluição, foi proposta uma Hierarquia do Lixo Marinho, com soluções sistematizadas. Além disso, identificamos 51 parâmetros que podem ser usados nas estimativas do escape de lixo para o ambiente, incluindo informações socioeconômicas, ambientais e de saneamento, que representam bem as particularidades subnacionais. No Brasil, apenas 29,4% desses parâmetros foram associados a fontes de dados com usabilidade ótima ou boa, fato que explicita as dificuldades em realizar estimativas sem acesso a dados de boa qualidade. O estudo também indicou que o Brasil gera um total de 3,44 milhões de toneladas (MT) de LPPE por ano. Os hotspots de maior geração de LPPE e potencial vazamento para o oceano também foram indicados, dos quais se destacam a Baía de Guanabara, a Lagoa dos Patos, e os rios Amazonas, São Francisco e Tocantins. As informações produzidas fornecem uma linha de base para futuros estudos, orientam medidas de prevenção e mitigação, e subsidiam planos de gestão de resíduos sólidos ou monitoramento do lixo no mar. Assim, este estudo apoia agendas locais, nacionais e internacionais para prevenir e mitigar o lixo no mar.
Fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.
