Data: 02 e 03 de março de 2023, das 15 às 20h15
O presente colóquio examina o estado recente da política, marcado por corrosões autoritárias patrocinadas pela ultradireita, em busca de uma reconceptualização da relação entre democracia e conhecimento. Embora resultantes de disputas políticas, os retrocessos políticos que atravessamos nos últimos anos em termos de um entendimento comum sobre o conhecimento e seu lugar na vida política refletem também contradições inerentes às concepções tradicionais acerca desta relação, a qual foi elaborada discursivamente na modernidade por meio do conceito de emancipação. Parte deste problema pode ser explicado em termos de exclusões epistêmicas que consagram uma hierarquização entre saberes, bem como entre aqueles que sabem, e, portanto, têm uma voz na política, e aqueles que não sabem, e, assim, dela são excluídos, uma hierarquia que recobre ideologicamente diferenças concernentes às classes, aos gêneros, às raças e às relações Norte-Sul. Esta hierarquização em termos de diferenças epistêmicas se traduz em limites fundamentais a qualquer concepção compartilhada de conhecimento, tal como definida no conceito de esfera pública. Tais vulnerabilidades estruturais explicam, em certa medida, a força do discurso da ultradireita em seu ataque dirigido às instâncias tradicionais de produção de conhecimento, mesmo àquelas mais democráticas, como a Universidade, as quais, no caso brasileiro, viveram um momento de fortalecimento sob a proteção da Constituição de 1988.
Partindo dessa definição geral do nosso propósito, o presente colóquio abrangerá: (a) investigações histórico-conceituais a respeito da relação entre conhecimento e política; (b) debates acerca hierarquias e exclusões epistêmicas; (c) reflexões sobre a ultradireita e a desqualificação do debate público baseado em conhecimento compartilhado, bem como formas de resistência a este processo.
Dia 2/3/2023 (quinta-feira)
Mesa 1 (das 15:00 às 17:15)
Bernardo Bianchi (CMB/USP): O princípio da ignorância e a efetividade do conhecimento
Jefferson Viel (DF-USP/UFU): Sobre o conceito de emancipação nos primeiros escritos jornalísticos de Karl Marx
Thiago Dias (DF-USP): Entre os obscuros algoritmos e a luz do espaço público
Jorge Chaloub (UFRJ): Seria a ultradireita anti-intelectual?
Mesa 2 (das 18:00 às 20:15)
Marlon Miguel e Elena Vogman (Bauhaus-Universität Weimar): Institutional Psychotherapy and the Psychiatric Micro-Revolution*
Oliver Precht (CMB/Leibniz-Zentrum für Literatur und Kulturforschung): Politics of Perception: Can We Think and Re-Entangle the Conspirasphere?*
Alyne Costa (PUC-Rio): Negacionismo e os paradoxos da relação entre democracia e conhecimento
Dia 3/3/2023 (sexta-feira)
Mesa 3 (das 15:00 às 17:15)
Olgária Matos (Unifesp/DF-USP): Fake news e a conversão da narração em narrativa
Maïwenn Roudaut (CMB/Université de Nantes): “As Far as Knowledge Goes, There Is Also the Hope of Conscious Resistance”*
Homero Santiago (DF-USP): Em defesa da verdade – em torno de George Orwell
Benito Maeso (USP/UFPR): O “cidadão de bem”: um estudo de caso sobre a Personalidade Autoritária
Mesa 4 (das 18:00 às 20:15)
Iracema Dulley (ICI Berlin) e Juliana Streva (Freie Universität Berlin): Convite para uma epistemologia fugitiva
Bruna Coelho (CMB/Université Paris 8): A fabricação do patriarcado brasileiro ou do sujeito = geringonça
Tessa Lacerda (DF-USP): Outras histórias: narrativa histórica dominante e resistência
[*] será fornecida tradução